Papê! Papelaria

    Aquele som de chuva caindo no telhado, com o barulho ao fundo de uma janela vibrando com o vento, criavam um ambiente hipnótico perfeito.

     Naquela noite, Rita acabara de pousar seu livro na mesa de cabeceira, e assim que fechou seus olhos, começou a prestar atenção nos sons ao seu redor. Dava para ouvir o som de um trovão longo, mas distante e algum alarme de algum carro ou estabelecimento.

     Aos poucos Rute começou a se sentir muito leve como se estivesse flutuando, os sons foram se parecendo cada vez mais com uma música de fundo e ela começou a se sentir anestesiada. Então sentiu uma luz bem forte atravessando suas pálpebras o que a fez ir abrindo os olhos devagar e assim foi percebendo que não estava mais em sua cama, mas voando em um balão que pousava lentamente em uma cidade toda pintada de braco e muito bem iluminada.

     A medida que ia descendo, as casas iam aumentando de tamanho, até que aterrissou em um grande Castelo construído sobre um penhasco. Assim que desceu do balão, Ruth se virou para agradecer o piloto e só então se deu conta de que não havia ninguém dirigindo o balão. Uma música alegre tocando ali perto logo chamou sua atenção e ela começou a caminhar em sua direção, logo ouviu barulho de conversas e crianças brincando e assim que chegou na porta viu um imenso salão, com vários brinquedos, muita comida e doces.

     Não demorou para fazer amizade com um grupo que lhe apresentou alguns brinquedos e após se divertir em alguns, a desafiaram para ir no pula-babel: uma torre com um canhão no topo que lançava quem entrasse nele bem alto, até sair fora do salão através de uma escotilha. Ela ficou com medo, mas sua curiosidade era maior e lá foi ela voando vários metros até cair em uma cama elástica. O Sol brilhava e agora ela não estava mais no salão, mas em um campo bem verde e cheio de flores.

     Logo um outro grupo lhe chamou e ela foi assistir um show de cães skatistas e gatos acrobatas e em seguida foi ver uma fanfarra onde os tambores eram rufados por chipanzés vestidos com ternos lilás. Abaixo do tablado onde estavam os músicos, se abriu um uma porta por onde saiu um orangotango montado em um dromedário, que caminhou lentamente em sua direção e se deitou, enquanto a orquestra tocava o Concerto nº 2,L’estate, das “quatro estações” de Vivaldi.

     Uma harpia muito grande veio descendo e a convidou para um vôo panorâmico. Ao sobrevoarem a cidade, ela finalmente se lembrou de perguntar a harpia qual cidade divertida era aquela. Logo apareceu um outro pássaro ao seu lado que lhe respondeu:

     – Essa é a nossa cidade, a cidade dos sonhos, seja bem-vinda e volte quando quiser…

     – Então eu estou em um sonho?

– Isso mesmo, você gosta de pintar?

     – Eu adoro

     – Ótimo, então vem comigo. Pode me chamar de Papê!

     Rose seguiu aquele pássaro fofinho e meigo que andava de uma maneira engraçada. Ele lhe deu alguns lápis de cor gigantes e subiram em outro balão, quando chegaram bem alto eles começaram a pintar um magnífico arco-íris no céu. Então ela perguntou ao pássaro:

     – Sempre que vemos um arco-íris no céu é porque alguém pintou?

     – Exatamente, sua vida acordada é desenhada antes no mundo dos sonhos.

     – Quanto tempo eu ainda posso ficar aqui antes de acordar?

     – O tempo que quiser; na cidade dos sonhos o tempo se comporta de maneira diferente. Você pode passar anos aqui e achar que teve apenas um cochilo.

     Ela abaixou a cabeça para ver que horas eram, mas nem chegou a fazer isso, porque viu alguns barcos vindo no lago logo abaixo dela, eram dezenas deles e muito coloridos. A música era bem alegre e ela sentiu vontade de dançar. Nisso ouviu alguém lhe chamando de longe:

     – Ei Rúbia, não está com fome?

     Sim, estava com muita fome, tinha tanta coisa ali que ela até tinha se esquecido disso. Um facho de luz do sol bateu em cheio em seu rosto, ela olhou para a direção oposta para evitar aquele clarão enquanto ouvia barulho de cortinas e janelas se abrindo.

     – Seu café vai esfriar Rita, e você vai acabar se atrasando para a aula de novo!

     Rita abriu os olhos devagar, aos poucos foi se dando conta que tinha acordado. Quanto tempo tinha passado na cidade dos sonhos? Não fazia ideia. Olhou pela janela aberta e percebeu que não chovia mais e atrás dos telhados das casas dava para ver um lindo arco-íris. Ela sorriu, enquanto dizia baixinho:

     – Obrigada por colorir meu dia, pássaro fofinho.

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