Papê! Papelaria

   

– Leonardo Castelo! – Chamou a professora pelo sistema de som da escola. – Sua mãe está lhe esperando aqui fora.

Quase metade dos amigos da sala ainda aguardavam os pais irem buscar, enquanto isso brincavam de pintar um desenho na mesa da professora. Leonardo se despediu de todos e começou a juntar os lápis de cor:

– Lápis na parte maior, tesoura, apontador, borracha e cola na parte menor – disse ele para si mesmo enquanto organizava o estojo que tinha duas divisões. Sua mãe tinha lhe ensinado a guardar os materiais assim para ficar mais fácil de encontrar depois.

Assim que terminou, guardou tudo na bolsa e saiu. Mas enquanto saia, dentro do estojo o clima estava quente:

– Dessa vez ele passou de todos os limites! –  berrava o lápis de cor verde –Eu já estava apontado e ele me apontou de novo, sem necessidade.

– Mas não é culpa dele. –  O lápis azul tentava conciliar – Não é ele quem decide quando vai nos apontar.

– Mas é ele quem faz o serviço, se ele não estivesse aqui no outro compartimento, não teria como nos apontar. Dessa forma logo vamos estar acabados.

– De quem vocês estão falando?  – Perguntou o lápis branco, esfregando os olhos ainda sonolento.

– Quem mais poderia ser?  Daquele apontador irritante! – Respondeu o lápis vermelho – Mas pode voltar a dormir porque ele quase nunca te aponta, por isso você é o maior daqui. O problema é conosco.   

O lápis cinza entrou na conversa:

– Olha, não adianta ficarmos aqui reclamando, temos que tomar uma atitude. Amanhã podemos empurrar ele no chão antes do estojo ser fechado, dessa forma ele não vai poder nos apontar mais.

– Ótima Ideia – concordaram os demais –  finalmente vamos nos livrar desse chato.

No dia seguinte, quando ouviram chamar os nomes no alto falante, colocaram em prática seu plano: O lápis roxo rolou para o chão e enquanto Leonardo se abaixou para procurar, empurraram o apontador sobre o tênis dele que amorteceu a queda e ninguém ouviu.

– Uhull! – Gritou o lápis cinza quando ouviram o zíper se fechando sobre eles – Deu certo! Como esperei por esse dia. – E lá foram eles festejando para casa.

No outro dia, Leonardo foi fazer sua tarefa de casa e percebeu a falta do apontador.

– Mamãe, acho que perdi meu apontador na escola, procurei por toda parte e não encontrei.

– Não tem problema, eu posso apontar com meu estilete.  – Disse ela.

Em seguida começou a apontar um por um com ele.

Os lápis mal podiam acreditar em sua má sorte. O estilete não tinha piedade e decepava pedaços inteiros de uma vez, e ainda os deixavam com uma aparência horrível. Quando a lição de casa terminou eles entraram no estojo tremendo.

– Que saudade do apontador, juro que nunca mais reclamo dele. – Disse o lápis amarelo chorando.

– Esse insensível arrancou quase a metade de mim. – Resmungou o vermelho.

– Maior decepção da minha vida! – Disse outro – Fomos injustos com o apontador, devemos pedir desculpas a ele.

– Isso se tivermos sorte de encontra-lo novamente. –  Lembrou o Marrom – Pode ser que ele tenha ido para o lixo.

O clima era de completa tristeza e arrependimento.

No outro dia ouviram a professora perguntar:

– Alguém perdeu um apontador na sala ontem? Achei um no chão.

Era tudo que eles queriam ouvir. Leonardo também estava feliz por reaver seu apontar, tanto que até esqueceu de sua organização e o colocou junto com os lápis. 

Assim que o apontador entrou no estojo, os lápis todos o abraçaram e pediram desculpas, explicaram que tinham planejado jogar ele fora, mas que tinha sido pior. O apontador sorriu e disse:

– Eu desculpo vocês! A parte boa disso é que vocês finalmente entenderam que eu aponto vocês, não para lhes fazer mal, mas para ajudar vocês a cumprirem sua missão. Vocês estão diminuindo em tamanho a cada dia, mas viverão para sempre em desenhos, pinturas, livros e contarão historias para várias gerações. Eu apenas ajudo vocês a fazer isso da melhor forma possível.   

Eles não tinham pensado por esse lado. Aquilo fazia todo sentido! Se não pudessem pintar e colorir o mundo, para que serviriam?

 – Leonardo Castelo! Sua mãe lhe aguarda. – Informavam pelo alto-falante.

Ele procurou o apontador, não achou e só então se lembrou que tinha guardado do outro lado, tirou ele para fora e segurou na palma da mão para mostrar orgulhoso para a mamãe que o tinha recuperado. Os lápis foram embora abraçados naquele dia, felizes por enfim terem compreendido seu propósito.

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